A gripe aviária pode ser a próxima pandemia?

O vírus influenza, vírus  causador da gripe aviária,  voltou a aparecer nas manchetes de todo o mundo das cidades do litoral do Daguestão,  na Rússia, à costa do Peru, passando por fazendas de visons na Espanha e granjas nos  Estados Unidos, são vários episódios registrados  de milhões de animais que morreram (ou foram  sacrificados) após terem contato com o vírus

Mas será que o H5N1 pode  causar a próxima pandemia?

Bom, vamos começar com o básico: o que é o H5N1?

O H5N1 é conhecido desde 1996, quando foi  detectado por cientistas na China e em Hong Kong mas ganhou destaque internacional a  partir de 2005, quando a mortalidade de frangos criados em granjas  na Ásia subiu drasticamente.

Nessa época, também foram registrados episódios  de infecção em seres humanos — mas todos os afetados tiveram contato direto com aves doentes

O H5N1 é um tipo de influenza, família de vírus que reúne outros causadores  da gripe, como o H1N1 e o H3N2.

A diferença é que o H5N1 era um vírus que  atingia apenas as aves. Nelas, causa uma infecção respiratória e intestinal que progride  rapidamente e tem uma alta taxa de mortalidade mas a dinâmica desse vírus está mudando bastante. 

Por que o H5N1 voltou a virar assunto?

A Organização Mundial para Saúde Animal  estima que, desde outubro de 2021,  foram registrados mais de 42 milhões  de casos de infecção por H5N1 em aves nesse período, cerca de 15 milhões de aves  domésticas morreram em decorrência dessa gripe — e outras 193 milhões  precisaram ser sacrificadas.

Estamos diante do pior surto de gripe aviária já registrado  desde que esse vírus foi identificado  pela primeira vez, há quase 30 anos os surtos também estão se espalhando no mundo afora:  antes, se concentravam na Ásia e na Europa; mais  recentemente, começaram a afetar as Américas.

O aumento da circulação está relacionado as aves migratórias,  

que vão de um continente para o outro de acordo com a estação do ano.

Muitas delas viajam infectadas e, quando chegam a um novo lugar, têm contato com as espécies locais Assim, o vírus começa a circular numa  nova região — e pode chegar às granjas,  que concentram grandes quantidades  de aves em armazéns fechados, a médica veterinária Helena Lage  Ferreira explicou que o influenza H5N1 passou  por uma “diversificação genética” recentemente.

E é aí, desde 2005, esse vírus começou a se  diversificar geneticamente. Mas o que tem causado esse monte de problema é uma variante.  Decidimos então, em 2020, emergir uma nova linhagem do vírus. Na verdade, a gente fala clado  e esse é clado que tem sido disseminado desde a Ásia até a Europa, África e as Américas. 

Agora não é o mesmo vírus esse lado do subtipo H5N1 que tem causado esse problema é  o clado 2,3 por quatro, por quarto e ele tem algumas mutações genéticas que parecem que são mais  que fazem o vírus ficar mais transmissível entre as aves. Então as aves precisam de uma carga viral mais baixa para se infectar, então elas ficam mais suscetíveis também a uma infecção ou uma contaminação ambiental, por exemplo.

Mas o problema não para por aí, além do altíssimo número de aves afetadas nos últimos dois anos, o que tem chamado a atenção dos cientistas é a quantidade de mamíferos que também estão se infectando com o H5N1.

Até o momento, casos de gripe relacionados e esse vírus foram confirmados em ursos,  raposas, gambás, guaxinins, visons,  focas, golfinhos e leões marinhos, na maioria desses casos, a infecção acontece  

pelo contato próximo desses mamíferos com aves infectadas, muitos deles compartilham o mesmo  habitat — e o contato próximo facilita a transmissão do vírus entre espécies. Na maioria das vezes, o H5N1 é transmitido  diretamente das aves para os mamíferos por  

meio de fluidos como gotículas de  saliva ou fezes, ou pela predação,  

em que uma espécie caça e se alimenta da outra. Mas, recentemente, dois episódios  sinalizaram que o H5N1 pode estar adquirindo aos poucos a capacidade  de passar de um mamífero para o outro o primeiro deles aconteceu na Galícia, no  noroeste da Espanha. Em outubro de 2022,  

os responsáveis por uma fazenda notificaram as autoridades sobre a transmissão do vírus entre os visons, um tipo de animal  criado para a fabricação de casacos essa foi a primeira ocasião em que a  transmissão do H5N1 entre mamíferos,  sem a intermediação de aves,  foi confirmada oficialmente.

O segundo episódio ocorreu na costa do Peru, onde mais de 3 mil e 400 leões-marinhos morreram por causa da gripe aviária, essas mortes na costa peruana ainda  estão sob investigação para definir se a cadeia de transmissão envolveu diretamente as aves — ou se o H5N1 também começou a  ser transmitido entre os leões-marinhos.

Terceiro ponto: e nós, seres humanos?

A microbiologista Marilda Mendonça de Siqueira me disse que toda essa  

movimentação do H5N1 entre espécies diferentes é preocupante para a gente

A partir do momento que é detectado que um vírus influenza aviário conseguiu  

chegar até o mamífero, foi detectado em mamíferos. Isso aí causa uma preocupação porque, naturalmente, o ambiente celular de  um mamífero em termos de temperatura de pH de alguns receptores é muito mais próximo a dos humanos do que outras aves e então, e isso é uma das preocupações que nós  

então temos quando nós verificamos este salto em diferentes espécies animais de acordo com a Organização Mundial  da Saúde, a OMS, entre 2003 e março de 2022 foram registrados 864 casos e 456  mortes causadas pelo H5N1 em seres humanos.

Já o Centro de Controle e Prevenção de  Doenças, o CDC dos Estados Unidos, estima que,  entre janeiro de 2022 e março de 2023, dez  pessoas foram diagnosticadas com a gripe aviária duas delas morreram

Esses últimos casos aconteceram em Camboja,  China, Espanha, Equador, Reino  Unido, Estados Unidos e Vietnã recentemente, as autoridades  do Chile também detectaram um caso de gripe aviária em numa pessoa no país

Embora os números sejam pequenos, eles  permitem calcular uma mortalidade bem alta:  no geral, 52% das pessoas que  foram infectadas pelo H5N1 morreram a mortalidade pelo tipo 2.3.4.4b do vírus,  

que parece estar por trás desse  espalhamento atual, está um pouco menor

Mesmo assim, fica na casa dos 20%, mas é importante deixar claro que os casos de  gripe aviária em seres humanos são esporádicos  e estão todos relacionados ao contato próximo  com animais infectados em granjas ou na natureza até o momento, não foi registrada nenhuma cadeia  de transmissão direta de uma pessoa para outra.

E isso nos leva ao quarto ponto: será que o  H5N1 pode ser o causador da próxima pandemia?

O virologista Edison Durigon disse que o risco ainda é baixo,  mas nunca estivemos tão  próximos de um cenário desses na avaliação dele uma pandemia de H5N1  seria uma tragédia e se transformaria rapidamente num dos maiores problemas  que a humanidade poderia enfrentar, a professora Marilda Siqueira concorda a boa notícia é que o mundo  parece estar melhor preparado para enfrentar uma pandemia de H5N1  do que esteve para lidar com a covid.

Nós já temos, por exemplo, remédios  antivirais que funcionam bem contra esse vírus e vários centros de pesquisa já estão  fazendo testes de vacinas contra o H5N1,  um deles é o Instituto Butantan, em  São Paulo, que anunciou recentemente  que pretende começar os testes clínicos,  que envolvem voluntários, em 2024 a estimativa das autoridades é que seja  possível iniciar uma grande campanha de vacinação contra o H5N1 em cinco ou seis meses  a partir do momento em que uma eventual pandemia causada por esse vírus fosse decretada.

Com isso, chegamos à última pergunta: existe algo que podemos fazer agora  para evitar essa nova pandemia?

Cientistas, instituições públicas e governos já estão trabalhando nisso

Os especialistas dizem que é necessário investir ainda mais no monitoramento de vírus, para detectar possíveis mutações ou surtos  logo na origem, antes que eles se espalhem do ponto de vista individual, existem  algumas medidas básicas que já podem ser  colocadas em prática para nos proteger  e evitar uma crise de saúde futura a mais importante delas, segundo os cientistas  com quem conversei, é não tocar ou chegar perto de aves mortas que a gente veja na  praia, no mato ou em qualquer outro lugar Isso porque esse animal pode estar infectado com o H5N1 — e a proximidade pode  facilitar a transmissão pra gente Nesses casos, a orientação é notificar  as autoridades locais, que podem enviar  profissionais com equipamentos de proteção para  remover o corpo e enviar amostras para análise.

E, claro, vale sempre lavar as mãos  com regularidade e ficar atento aos  

sinais de infecção respiratória — como tosse, espirros, febre e dor no corpo

Nos casos em que esses incômodos aparecem, é importante evitar o contato com outras pessoas por algum tempo.

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