Os três principais pontos que explica o caos em Israel

Israel vive um caos político e social sem precedentes.

Um caldeirão que também inclui  greves, demissões no alto escalão,  brigas políticas e uma crise  inédita com o Exército.

Aqui foi explicar em 3 pontos essa convulsão,  que levou a um recuo importante  do premiê Benjamin Netanyahu.

Começo com o que está por trás dessa onda.

Israel tem vivido protestos desde que a coalizão de extrema direita liderada  

por Netanyahu colocou em marcha planos de reformar o sistema judiciário.

Uma reforma vista pelos críticos como uma ameaça ao  sistema democrático – e que detalho logo mais.

Os protestos foram crescendo semana a semana,  e passaram a aglutinar diferentes setores,  inclusive alguns tradicionalmente  alinhados à direita israelense.

Um dos pontos mais simbólicos talvez seja a adesão  de um número crescente de reservistas do Exército,  grupo que é a espinha dorsal  das Forças Armadas israelenses,  e que conta com bastante prestígio e influência.

Bom, vários deles, inclusive alguns de  esquadrões de elite e missões de combate,  têm se recusado a se apresentar para  suas funções militares. Eles argumentam  que a reforma proposta pelo governo vai  enfraquecer a democracia de Israel e,  em consequência, colocar a  segurança do país em risco.

As tensões chegaram ao auge no último fim de semana, quando o ministro da  

Defesa pediu que a reforma fosse suspensa.  Em resposta, ele foi demitido por Netanyahu.

Foi o estopim para uma onda ainda maior e mais violenta de manifestações nas ruas  – e alguns manifestantes chegaram a romper a barreira policial que protegia a  entrada da casa de Netanyahu em Jerusalém.

E ainda teve a decisão do maior sindicato do país, que convocou uma greve geral. Os voos do principal aeroporto de Israel foram cancelados por causa da  

paralisação dos trabalhadores aeroportuários em protesto contra as políticas do governo. Mas por que os planos de reformar o Judiciário causam tanta polêmica?

Em resumo, a proposta do governo prevê que a Suprema Corte fique impedida de revisar ou vetar leis aprovadas pelo Parlamento, que  passaria a poder alterar decisões do Tribunal.  

Isso deixaria o país sem nenhum sistema de pesos e contrapesos para contrapor o Poder  Legislativo – algo visto como essencial para  resguardar a democracia israelense. Com isso, na visão dos críticos, o país estaria  em vias de se tornar uma ditadura.

No caso dos militares, um dos argumentos é de  que Israel precisa de uma democracia sólida e  um Judiciário independente para defender  suas ações e condutas num momento em que  o país enfrenta hostilidades com seus  vizinhos e a comunidade internacional.

Por fim, outro ponto polêmico da reforma é dar ao governo mais poder sobre o comitê responsável pela nomeação de todos os juízes  do país, inclusive os da Suprema Corte.

Aliás, a gente produziu um vídeo explicando isso em detalhes, vou deixar aqui embaixo na descrição.

Na prática, Netanyahu também é acusado de usar a reforma em benefício próprio, já que ele está sob julgamento na Justiça por  acusações de corrupção, as quais ele nega.

Em contrapartida, defensores da reforma argumentam que o bloco de partidos religiosos e de extrema  direita venceu a eleição geral mais recente,  

em novembro passado. Então, teria recebido aval das urnas para levar a reforma adiante.

E Netanyahu argumenta que as mudanças propostas  restauraram o equilíbrio entre os Poderes no país. Ele diz que os líderes do protesto têm interesses políticos e tentam derrubar o governo.

Como você vê, a convulsão atual não está diretamente ligada à questão mais sensível  

da política israelense, que é a disputa com os palestinos, mas essas tensões também têm crescido.

Ao longo do último ano, tropas israelenses têm conduzido operações quase diárias na Cisjordânia,  

área palestina ocupada. O saldo é de mais de 250 mortes entre palestinos,  

além de 40 israelenses e estrangeiros que foram mortos por ataques palestinos.

E o que pode acontecer?

Segundo o correspondente da BBC em Jerusalém, Tom Bateman, o que está  em jogo é a própria identidade do Estado de Israel.

Tom Bateman diz que Netanyahu  

está numa posição difícil, acuado de um lado pelos protestos populares e, do outro,  pela ala de extrema direita que compõe seu  governo e que defende firmemente as reformas.

No fim, diante da pressão, o premiê acabou  recuando e anunciou o adiamento da reforma.

Em um pronunciamento, Netanyahu  disse que existe uma “vontade  

de se alcançar um consenso” e que  buscava evitar uma cisão no país.

Mas deixou claro que não estava  desistindo da reforma.

Ainda não se sabe se esse adiamento  vai ser suficiente para aplacar os  

protestos. Ao menos por ora,  a greve geral foi suspensa.

Nas últimas semanas, o presidente israelense,  Isaac Herzog, cujo cargo é cerimonial e costuma  se manter distante das disputas políticas,  advertiu que o país pode estar caminhando rumo ao  “desastre” caso não se chegue a um consenso.

Após o anúncio do recuo de Netanyahu, Herzog  disse que isso era “a coisa certa a se fazer”.

É uma crise que a gente vai continuar acompanhando aqui.

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