O que explica o crescimento recorde populacional do Canadá

O Canadá viu sua população aumentar em mais  de um milhão no intervalo de apenas um ano. A população canadense é a que cresce com  mais rapidez entre as nações da OCDE,  grupo conhecido como clube dos  países ricos – e que inclui muitos lugares que têm o desafio de enfrentar  o envelhecimento acelerado de seu povo.

Por trás desse crescimento no Canadá está uma política migratória do governo.

A agência de estatísticas oficial do Canadá divulgou que a população  

passou de 38 milhões e meio de habitantes para 39 milhões e meio, esse ritmo de crescimento tinha  sido visto pela última vez em 1957, no chamado baby boom pós Segunda Guerra Mundial.

Se esse ritmo for mantido, a população canadense vai dobrar em 26 anos, segundo a agência governamental e quase a metade desses um milhão de novos canadenses são imigrantes.

O país recebeu 437 mil estrangeiros no ano passado, número que também é recorde.

A entrada de imigrantes é vista pelo governo canadense como uma forma  de enfrentar dois problemas:

O primeiro é a baixa taxa de natalidade no país, de 1,4 filho por mulher – bem  

abaixo do nível de 2,1 filhos por mulher, mínimo para repor as pessoas que morrem.

A preocupação aqui é que, com menos  nascimentos, seja cada vez mais difícil ter população em idade produtiva para  compensar os gastos com a população idos.

O segundo problema canadense é a escassez de  mão de obra em setores considerados cruciais,  como saúde, manufatura, construção civil  e a área chamada de STEM – sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática.

Segundo o governo, a falta de trabalhadores tem prejudicado a recuperação econômica canadense pós-covid.

Desde que assumiu o poder, em 2015, o governo do primeiro-ministro

Justin Trudeau tem feito esforços para atrair mais estrangeiros, mas essa política ganhou gás no ano passado, quando o governo anunciou planos de receber  meio milhão de imigrantes por ano até 2025.

Isso tem incluído refugiados de conflitos como Ucrânia, Afeganistão e Síria,  mas também pessoas de países afetados por crises econômicas, como a Venezuela – e o próprio Brasil.

No  Canadá e, segundo as autoridades locais,  só em 2022 mais de 7 mil e 300 brasileiros  se tornaram residentes permanentes no país.

No ano anterior foram 11 mil e 400 brasileiros.

O Canadá tem um modelo de imigração baseado em pontos, que leva em conta fatores como idade, nível de inglês e francês, formação acadêmica e trajetória profissional para escolher quem receberá a residência permanente.

Muitos brasileiros escolhem entrar no país fazendo cursos superiores,  

justamente porque o diploma conta pontos nesse sistema.

Mas, apesar do incentivo à imigração, nem sempre a mudança para o Canadá é um processo fácil.

Há vários casos de imigrantes, inclusive brasileiros, que desistem  do processo e voltam para seus países.

Os motivos principais para isso são a rotina pesada, já que muita gente  

tem de conciliar estudos e emprego para se manter, e as dificuldades financeiras.

Tem gente que, mesmo trabalhando duro no Canadá, precisou gastar todas as economias em real antes de conseguir empregos mais bem remunerados e residências permanentes.

E, é claro, tem o fator clima:  não é todo mundo que se acostuma  

com facilidade com invernos longos, muitas vezes sob temperaturas negativas de modo geral, o Canadá é visto como um país  mais receptivo a imigrantes em comparação com seu vizinho do sul, os Estados Unidos, que  vêm endurecendo suas políticas migratórias.

Mas isso não significa que não existam dificuldades em receber esses imigrantes, principalmente os que atravessam  a fronteira terrestre a pé,  

vindos do território americano em situação migratória irregular

Na província de Quebec, onde muitos desses recém-chegados que pedem refúgio se instaalam,  o premiê regional, François Legault,  disse em fevereiro que os serviços sociais haviam chegado ao limite e, por isso, alguns imigrantes ficariam sem teto.

Ele falou, entre aspas, que  “está cada vez mais difícil receber os solicitantes de refúgio com dignidade”.

O intenso volume de pessoas também aumenta a demora por documentos importantes, como vistos de trabalho ou números de seguridade social

Os próprios pedidos de refúgio, que cresceram 26% ao longo de 2022, estão levando dois anos para serem processados – e, no fim desse  processo, quase um terço foi rejeitado.

A agência de estatísticas do Canadá também  afirmou que o aumento no fluxo de imigrantes permanentes e temporários pode “trazer  desafios adicionais para algumas áreas, em questões como moradia, infraestrutura,  transporte e serviços para a população”.

O governo, por sua vez, diz que seu plano migratório prevê atrair imigrantes para diferentes regiões do país, incluindo cidades menores ou rurais,  

para aliviar a pressão sobre determinadas áreas do país e defende que a imigração é o caminho para, entre aspas,  “ajudar as empresas a encontrarem  os trabalhadores de que precisam, colocar o Canadá no caminho do sucesso de longo  prazo e fazer valer nosso compromisso diante  

de pessoas vulneráveis, que estão fugindo da violência, da guerra e da perseguição”

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