Deflação: como queda nos preços pode impactar seu bolso e economia do Brasil

Caiu o preço da gasolina, dos carros novos, da carne e do leite, e isso provocou a primeira deflação de 2023. Segundo o IBGE, o IPCA, índice oficial de inflação do Brasil, recuou 0,08% em junho. Mas o que isso significa para a economia em geral e para o seu bolso?

Neste texto vamos falar sobre a deflação – e explicar por que esse recuo nos preços deve durar pouco.

De modo simplificado, enquanto a inflação é o aumento de preços de produtos e serviços, a deflação é o contrário: quando os preços caem entre duas medições. Em outras palavras, é quando o índice de inflação fica negativo, como foi o caso no último mês. A deflação representa um alívio para o orçamento das famílias, principalmente as mais pobres, já que a inflação corrói o poder de compra. A deflação também será comemorada por quem toma empréstimos, como empresas e famílias. O motivo é que essa circunstância torna mais provável que o Banco Central comece a reduzir a taxa básica de juros, a Selic.

Eu vou explicar melhor: a taxa básica de juros é o principal instrumento usado pelo Banco Central no controle da inflação, ao desestimular o consumo e o crédito. Quando os juros caem, isso barateia o crédito para o consumo das famílias e o investimento das empresas, contribuindo para um maior dinamismo da atividade econômica – é por isso que o nível de juros se tornou uma espécie de cavalo de batalha entre o BC e o governo Lula nos últimos meses.

Por fim, a perda de força da inflação é um fator positivo para o governo, que se beneficia de uma percepção melhor da população em relação à economia. Não à toa, a queda de preços aos consumidores tem sido comemorada pelo presidente Lula nas redes sociais. Com a deflação de junho, a inflação acumulada dos últimos doze meses no Brasil caiu. Estava em 3,94% na medição de maio e agora está em 3,16%, por enquanto dentro da meta estabelecida pelo governo.

O preço da carne, mencionado por Lula no Twitter, era um dos vilões da inflação nos últimos anos, mas tem recuado em 2023. O motivo é que uma safra recorde reduziu os custos dos insumos usados na ração dos animais, barateando a produção. Além disso, o preço da carne caiu no mercado internacional, e não só no Brasil, graças a um aumento da oferta. Outros alimentos com preço mais baixo são as frutas e o leite. Juntos, esses itens contribuíram para que o grupo “alimentos e bebidas” registrasse o maior recuo do IPCA em junho.

Os carros novos e a gasolina também puxaram a inflação para baixo. No caso dos automóveis, um programa temporário do governo federal deu descontos de 2 mil a 8 mil reais a quem comprasse carros populares. O Ministério do Desenvolvimento diz que 125 mil veículos foram vendidos no programa, entre 6 de junho e 7 de julho. No caso da gasolina, a Petrobras abandonou o chamado PPI, sigla para preço de paridade de importação. Esse modelo, que vigorava no Brasil desde 2016, atrelava o preço dos combustíveis no mercado interno à variação do petróleo no exterior e do câmbio. Depois da mudança, a estatal já anunciou vários cortes nos preços dos combustíveis. O que se reflete na deflação mostrada pelo IPCA em junho.

Mas tanto o governo quanto consumidores e empresas precisam se preparar para o fato de que o recuo da inflação em junho deve ser algo temporário. A expectativa dos economistas é de que o IPCA volte a registrar variações positivas de agosto até o fim do ano, com a inflação fechando 2023 um pouco abaixo dos 5%. Os motivos para isso são vários: a re-oneração de impostos sobre combustíveis, o fim do programa de descontos para automóveis e a perda de força da deflação de alimentos.

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